O adolescente de 17 anos suspeito de matar o amigo dentro de uma escola estadual, em Curitiba, contou que pegou a faca de cozinha no refeitório da colégio na hora do almoço, pois os dois já estavam se desentendendo depois de fazer uso de droga, de acordo com o delegado Fábio Amaro, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).


Na tarde de segunda-feira (24), Lucas Eduardo Araújo Mota, que tinha 16 anos, foi morto a facadas na Escola Estadual Santa Felicidade. O colégio estava ocupado por estudantes que protestam contra a reforma do ensino médio. Após o assassinato, o local foi desocupado.


Lucas está sendo velado nesta terça (25).


O suspeito foi apreendido ainda na segunda, na casa em que mora com a mãe e o padrasto e ali mesmo confessou o crime, conforme o delegado. "Entrevistei e ele confessou o crime, na frente do padrasto e da mãe", afirmou Fábio Amaro.


O delegado disse que o suspeito foi submetido a um exame toxicológico e a vítima a um laudo cadavérico, já que a suspeita é de que os dois tenham consumido droga no dia do ocorrido."Usaram um microponto de LSD pela manhã", contou Fábio Amaro.


Na segunda, o secretário de Segurança do Paraná, Wagner Mesquita, havia dito que os dois tinham ingerido uma droga sintética, conhecida como bala. Segundo o delegado, o crime aconteceu na sala dos professores, que era usada como alojamento pelos estudantes da ocupação. "Se trancaram no alojamento, ocorreu uma gritaria. O suspeito saiu correndo e pulou o muro".


O motivo do crime, de acordo com Fábio Amaro, foi uma discussão entre os dois, já sob o efeito da droga. O Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) foi acionado para socorrer o garoto, mas, ao chegar na escola, ele já estava morto.


Como o homicídio aconteceu dentro do alojamento, os demais estudantes que estavam na escola não assistiram à cena. "Ouviram a gritaria e viram o suspeito sair correndo", afirmou o delegado. Fábio Amaro também disse que, pelo menos, dez estudantes foram entrevistados pela Polícia Civil dentro do colégio estadual.


Os relatos dos estudantes ajudaram a elucidar o crime. Lucas e o suspeito eram alunos da Escola Estadual Santa Felicidade. A vítima cursava o 2º ano do ensino médio, e o suspeito o 9º ano do ensino fundamental, segundo o delegado.


Fábio Amaro afirmou que os dois estavam entre os alunos que ocupavam o colégio – Lucas desde o início da ocupação, em 14 de outubro, e o suspeito há dois dias. Porém, o movimento Ocupa Paraná e a União Paranaense de Estudantes Secundaristas (Upes) dizem que eles não estavam na ocupação.


O suspeito está apreendido na Delegacia do Adolescente e pode responder por ato infracional de homicídio qualificado, ainda conforme o delegado Fábio Amaro.


Caso isolado
Nesta terça-feira, representantes da União Paranaense de Estudantes Secundaristas (Upes) comentaram o caso. Eles disseram que se trata de um caso isolado e reforçaram que as ocupações não são um espaço para o uso de drogas.


"A partir do momento que as ocupações se dão, é nítido este alerta. E nós, em 20 dias de ocupação, nós não tivemos nenhum incidente. O Conselho Tutelar divulgou uma nota, que mais de 90% das escolas ocupadas foram visitadas pelo Conselho Tutelar e nenhum incidente ocorreu.


Então, é para frisar que o fato que ocorreu ontem é isolado. O que tem dos autos do inquérito é que o adolescente pulou o muro da escola, então, ele não adentrou para a ocupação. É um fato isolado.


Então, é assim, nós reforçamos que extremamente proibido e que se algo acontecer que sejam tomadas as medidas legais, que ali não é um espaço de consumo de drogas", afirmou Marcelo Miranda, vice-presidente da Upes.


O movimento Ocupa Paraná divulgou uma nota na segunda. "Recebemos hoje a triste notícia de que um estudante de apenas 16 anos foi morto em uma escola ocupada no Paraná, a notícia foi recebida com muita tristeza por todos aqueles que lutam por uma educação pública de qualidade no Brasil.


Lucas Eduardo, mesmo não sendo um dos estudantes que ocupavam a escola é também vítima de um sistema que oprime e que não corresponde aos anseios da juventude", diz um trecho da nota. O governador Beto Richa (PSDB) emitiu uma nota de pesar pela morte do estudantes. Outras entidades também se manifestaram.


Ocupações
Desde 3 de outubro, o Paraná vivencia o movimento de ocupação das escolas estaduais. O movimento Ocupa Paraná afirma que são 850 instituições de ensino ocupadas, 14 universidades e três núcleos. A última atualização foi feita na sexta-feira (21).


Onde há ocupação, as aulas estão suspensas.O número da Secretaria de Estado de Educação é diferente: 752 escolas ocupadas, ou seja 31% do total, conforme divulgado na tarde desta terça. Os jovens se dizem contrários à apresentação da medida provisória que promove mudanças no ensino médio.


G1